Bem, já há muito tempo que não escrevia algum texto desses longos que deixam as pessoas concentradas por muito tempo a ler ou que dão preguiça de ler à alguns, de tão longos que são. A última vez que escrevi algo parecido foi há cerca de 2 anos, quando participava de uma acção social para crianças que moram na rua. Escrevi sobre os tristes episódios vividos por um menino que morava na rua, que contou-me a sua história e o motivo que o levou a fugir de casa para viver na rua; Ele era abusado sexualmente e ameaçado de morte pelo tio.
Hoje decidi voltar a escrever, por influência de alguém muito especial por quem tenho muito carinho e consideração. A ideia de escrever surgiu depois de assistir o filme “FiveFeetApart”, que me foi recomendado pela pessoa especial de quem me referi. Não vou contar a história do filme porque não acho necessário. Convido ao caro leitor a assistir e a sentir a mesma emoção que senti. Bem, pode até não ser a mesma emoção, mas recomendo que assista.
Neste texto quero fazer uma pequena reflexão sobre “Viver”, com base nas ilações que tirei do filme anteriormente referido. De entre várias coisas, o filme fez-me refletir sobre a graça de viver e fez-me rever algumas perspectivas que tinha sobre a vida.
#1: ser mais grato e valorizar a vida que tenho.
Sobre a gratidão, o filme fez-me repensar que existe uma imensidão de gente na cama de um hospital tentando sobreviver, sem poder andar, falar, ver, sentir, quase sem nenhuma esperança. Mas também tem gente “saudável” cá fora que vive reclamando por tudo e por nada, sem foco, sem direcção, sem prudência, afundando cada dia em lamentações sem fim, em queixas de si próprios, da vida, das condições, enfim, de tudo. É apenas um exemplo, podia ser qualquer outra situação. São duas realidades diferentes, uns lutam para ter saúde e viver, outros têm saúde e bem-estar mas levam uma vida completamente desregrada, uma vida exposta a todos os perigos, sem freio, sem limites, sem brilho, sem entusiasmo, sem vontade, uma vida triste, sem ânimo, sem graça, resignada, acomodada, sem nenhuma vivacidade, como se a sua existência fosse obra do acaso. Talvez se todos tivéssemos plena consciência do martírio que os outros passam para viver seríamos mais gratos pela vida que temos. Talvez se tivéssemos consciência de que a nossa vida, a nossa saúde, as nossas oportunidades, as poucas coisas que temos são o sonho de consumo de muita gente, valorizaríamos um pouco mais a vida que temos.
Costumo dizer aos meninos durante a catequese, que enquanto eles têm um lar, uma casa, um quarto, uma cama, um prato de comida, há muita gente que não tem onde reclinar a cabeça quando a noite cai, tem gente que não tem sequer uma migalha para saciar a fome, tem gente que vive numa miséria sem fim. Costumo recorda-los que hoje eles acordaram, mas há quem simplesmente dormiu e não acordou. Digo-os estas coisas para que aprendam a olhar a vida com mais gratidão, para que aprendam a valorizar tudo o que têm.
#2: A brevidade da vida
Bem, eu olho a vida como uma estrela cadente, como um sopro, como um piscar de olhos, num instante tudo passa, num instante tudo acaba. Imagino que o leitor já tenham assistido “FiveFeetApart”. A cena da morte do Paul é antecedida pela comemoração do aniversário do Will, onde estavam todos alegres, entre sorrisos e abraços. Naquela mesma noite quando todos recolhem-se aos quartos, Paul morreu. Não houve ocasião para despedir-se da Stella, sua melhor amiga, do Will, da família ou de quem quer que seja. Ele simplesmente morreu!
Provavelmente será assim com muitos de nós, não teremos ocasião para nos despedir de ninguém, não teremos ocasião para perdoar ou pedir perdão àquela pessoa a quem magoamos, não teremos ocasião para abraçar pela última vez, para dizer a alguém que o amamos, para sorrir, enfim, a morte não avisa. Isto lembrou-me de alguns versos que escrevi para uma música com o título “Faça alguém feliz”. Pois é, nos meus tempos livres dou uma de compositor. Os versos dizem:
“Ame, abrace, grite e sorria
Tenha um coração cheio de alegria
Faça alguém feliz, seja noite ou dia
Amigos são notas, faça melodias”
Paul tinha planeado uma viagem com o ex-namorado em um mês, mas a morte anulou tudo. Todos nós fazemos planos para o futuro e deixamos quase tudo para depois. É bom fazer planos, organizar as próximas etapas da vida. Mas é bom também viver o presente com intensidade, viver cada dia, cada instante como se fosse o último. Precisamos equilibrar a balança entre os planos para o futuro e a vida presente, afinal, ninguém sabe até quando vai existir.
A cena da morte do Paul devolveu-me ao ano de 2018 quando uma amiga minha perdeu a vida, depois de alguns dias internada no hospital como consequência de um acidente de viação. Era tão jovem, com apenas 22 anos e 1001 sonhos ainda por realizar. Aprendi nessa época que é preciso viver a vida intensamente, com ânimo, com alegria, desfrutar de todas as oportunidades, aproveitar de forma positiva todas as pessoas que estão connosco. É preciso amar, respeitar, perdoar, abraçar, chorar, sorrir, agradecer, gritar, saltar, cantar, olhar, enfim… é preciso viver como se a vida acabasse agora.
#3: O amor vence barreiras
Na verdade, eu não sei falar muito sobre o amor porque penso que o amor não se define, vive-se. Em meio às limitações impostas pelo estado de saúde, Stella e Will vivem uma história de amor. Os dois deviam estar sempre 6 passos distantes um do outro. Isto significa que não podiam tocar-se, não podiam abraçar-se e muito menos beijar-se. Caso infringissem as regras, Stella podia piorar a sua situação de saúde. Mas esta barreira não foi suficiente para que os dois não vivessem o seu amor. O contacto físico é uma forma de manifestar o afecto que temos uns pelos outros. O abraço, o aperto de mão, o gesto de acariciar e o toque ajudam-nos a sentir e fazer sentir o amor que temos uns pelos outros. Na cena em que os dois estão na piscina, porque não podiam tocar-se, Stella passa o taco de bilhar no corpo para que Will imaginasse o contacto físico.
Muitas vezes deixamos de viver grandes histórias de amor por conta das limitações que nos são impostas. Há pessoas que separam-se porque os pais não aprovam o relacionamento, porque são de classes sociais diferentes, porque são de raças diferentes, porque são de religiões diferentes, porque têm níveis de escolaridade diferentes, outros porque estão distantes, fisicamente, um do outro.
Tal como disse, não sei falar muito sobre o amor, mas quis trazer este detalhe para que cada um reflectisse um pouco sobre viver um amor. O amor não tem motivo; quem ama, ama porque ama.
#4:Para ser feliz às vezes é preciso quebrar algumas regras
Esta é a última lição tirada do filme e, curiosamente, é a parte que dá sentido ao título do filme. Na cena em que Stella e Will passam a usar um taco de bilhares para marcar distância eles quebram a regra dos 6 passos. O taco mede 5 passos e eles passam a ficar 5 passos distantes um do outro. Daí vem o título “FiveFeetApart”. Um passo fez muita diferença para que ficassem mais próximos e isto foi motivo de felicidade para os dois.Na cena em que ela quase afoga-se e ele tira ela da água e faz respiração boca-a-boca, quebra uma regra, mas salva-lhe a vida.
A sociedade, os hábitos e costumes, as crenças, os padrões de beleza, os esteriótipos impõem-nos regras que muitas vezes sufocam-nos e roubam-nos a graça de ser felizes. Às vezes precisamos quebrar regras para sermos felizes à nossa maneira. A nossa felicidade é sobre nós mesmos, sobre o que nós próprios escolhemos e nos propomos a viver. Quebre regras, mas seja prudente. Ande na contramão, mas não se perca. Voe alto, mas tenha limites. Em todo o momento escolha sempre ser feliz.
Ao assistir o filme cada um poderá tirar suas próprias lições. Estas são as lições que eu aprendi.Espero que o leitor tenha gostado e aprendido muito com o texto. Termino com a última frase dita por Stella: A vida é muito curta para perder 1 segundo.
Obrigado
Escrito Por: Adélio Naiene
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